Foi-se o tempo em que as pessoas respeitavam os velhos. Elas eram coroadas de flores quando desencarnavam porque tinham uma fila de parentes, amigos que se ajustavam à família. Hoje em dia não é mais assim. Hoje, após a morte de alguém, seus familiares tratam de enterrá-los imediatamente. Dizem que não querem mais velórios porque não se usa mais. "É assim que o vovô queria", costumam dizer. Falam que assim é melhor. Enterram logo e saem todos correndo para surfar, patinar, andar de bicicleta, ir ao cinema, usar computadores, viajar, etc. Telefonam apenas aos advogados para saber quando sairá o dinheiro da herança deixada. Não se preocupam sequer em arranjar os túmulos dos velhinhos. São sepultados numa vala qualquer para não gastarem dinheiro, já que o morto não precisa de casa.
Estou escrevendo isso a você porque eu sou um espírito. Um espectro que viveu isso na Terra. Meus filhos jogaram terra em cima do meu caixão e saíram correndo para passear no mesmo dia. Diziam que não existe mais luto e nem dor. Diziam que a espiritualidade é o melhor que existe porque ensina para não ficarem chorando por quem foi. Tudo bem tranquilo, senhores! Realmente não existe nada melhor do que enterrar seus mortos. Deixá-los ir em paz. Não ficar buscando nas gavetas as recordações porque é muito doloroso para quem foi para o Plano Etéreo e para quem ficou na Terra. Mas... Vamos lá! Hoje em dia não respeitar os velhos em vida também já é demais. Eu estava com câncer no pulmão, depois surgiu no estômago e, por fim, se espalhou para outros órgãos em menos de 3 meses. Não quis que ninguém me tratasse com a tal de quimioterapia e ficassem mexendo, retalhando o meu corpo. Quis morrer em paz. Sem cortes, sem choro e sem vela. Mas eu exigia respeito. Respeito no meu velório, ser enterrado direitinho como mandam as normas de um bom senso e direitos iguais.
Mesmo assim minha família pulou fora. Eu fui mal interpretado e minha família pulou as normas que deixei. Mandaram me matar. Isto é, retalhar meu corpo inteiro, operações, cirurgias que mais pareciam um festival de sangue e tumores. Aguentei calado. Logo aconteceu que outro cunhado mandou me internar para a quimioterapia. Outro pediu para reduzir os gastos do enterrro. Minha ex-mullher achou melhor reduzir os gastos também do meu túmulo porque gastou muito quando eu estive internado. Vamos lá. Numa dessas eu fiquei transtornado. Do lado de cá, no Plano Etéreo, fui assistindo a tudo. Um roubo de todos os lados. Cada um por si e Deus por todos. Mas vou confessar uma coisa a você que está tendo a paciência de ler: resolvi mandar todo mundo para o inferno. Pedi autorização para um santo que fica no meu território aqui da Colônia do Bem-Querer para dar uma descidinha na minha cidade, minha casa, visitar a família e amigos, depois de um tempo já na Casa Morada Nosso Lar. Fui agraciado divinamente e deixei temporariamente aquela dimensão para vir nesta do homem terrestre. Ao visitar todos vi meus filhos comendo e vestindo-se bem. Fiquei contente. Vi também meus filhos, netos, esposas com segurança, carro blindado. Achei estranho. Fui olhar a minha ex-mulher, ela estava magra, com seios avantajados e rejuvenecida uns 15 anos. Pensei: "Como ela fez isso?". Recebi a informação de que ela tinha peitos falsos, siliconados. E uma tal de cirurgia plástica com um canudo que vai inserido dentro do corpo para tirar gordura, que vocês chamam de lipoaspiração. Também vi que ela morava numa casa linda, andando de lá pra cá com um cachorro de raça, e acompanhada por um homem razoável, bem vestido. Soube que esse era o atual namorado dela e que a visitava nos finais de semana. Notei que não havia uma foto minha em nenhum lugar. Nada que lembrasse minha passagem pela vida dela. Nem anéis, jóias que lhe tinha presenteado. Vendeu tudo para não ter recordações.
Entendi que tinha feito isso para não sofrer, passar a vida se lamentando. Mas eu a vi no quarto de dormir. Preparava-se feito uma princesa para deitar na sua cama gigante cheia de almofadas; logo vi o atual namorado dela, embriagado, deitar-se com ela e ambos rindo muito alto. Muita safadeza na cama e eu achando que ela nunca faria nada daquilo porque comigo era uma santa.
Subi ao Plano Etéreo sem entender o que tinha ocorrido. Vi então na plataforma da minha colônia um bilhete. Estava escrito para eu descer novamente, procurar entender o que tinha ocorrido com a família que eu tive e depois voltar sem nenhuma dúvida.
Andei muito pouco para descobrir. Minha fábrica de móveis, que completou 30 anos quando eu desencarnei, estava no chão. Eles venderam tudo. Cada um ficou com uma parte que lhe cabia. Investiram em outros negócios e estavam vivendo cada um com sua própria empresa, individualmente, com recursos próprios. Fiquei atônito com o que soube. Eles nunca gostaram da minha fábrica de móveis e assim, após a minha morte, desfizeram de tudo em apenas 7 meses. Minha ex-esposa também já estava com um amante antes de eu desencarnar, porque ela sabia que eu estava prestes a mudar de Plano e não quis perder tempo.
Engoli a revolta e não chorei por nada. Procurei o orientador espiritual da minha colônia: São Tomaz de Aquino, nome muito conhecido por muita gente. Ele pacientemente me disse que as pessoas na Terra não têm vínculos com ninguém no tempo atual. Você serve para servir, você serve para amar, você serve para desfrutar de coisas para todos, mas acabou há muito tempo essa historia de amor para sempre.
Eu não gostei de nada disso. Esqueci a fábrica de móveis, o dinheiro deixado, o túmulo que não foi feito adequadamente, a ex-esposa, filhos, todos com a vida renovada. Então pensei comigo mesmo que seria melhor eu ficar no Plano Etéreo e não fazer mais nenhum contato com a ex-família, amigos, etc. Passado um minuto depois, ouço um chamado vindo da Terra. Atendo a onda que chegava de um chamado da minha antiga esposa. Ela me pedia para que eu a orientasse sobre como conseguir mais dinheiro porque já estava acabando o que ainda possuía, e se isso acontecesse o namorado não ficaria com ela. Sabendo que fui um empresário de sucesso, me pedia orientação.
Ralhei com isso. Então é assim que acontece. Ninguém se lembra de nada do que fomos em vida, mas você se torna importante para auxiliar quando eles na Terra querem algo. Eu fechei a porta da comunicação da Terra, e com ela fechada não ajudo ninguém mais. Em vez de ir para a Terra ajudar os filhos e esposa mimada, eu vou mesmo é para a Lua, Marte, outro espaço. Na Terra eu não ajudo mais ninguém. Perdi a confiança.
Não demorou muito para que o meu orientador me dissesse que os homens da Terra estão cortando a comunicação espiritual. Eles estão avançando num território muito perigoso que é a chave de som mal usada. Essa chave é um circuito que se dá com eles mesmos na Terra querendo que a evolução espiritual não aconteça. Entram em contato com os mortos e nós, os espectros de luz, somos muito autênticos para o uso da comunicação. Não somos santos e não temos intenção de ferir ninguém. Desejamos evitar a volúpia da guerra, do sexo.
Porém, o homem da Terra chama através das preces, orações e por pensamentos os desencarnados para ajudá-los. Pedem ajuda, mas tem que ser do jeito que eles querem. Tentam dar a direção como se fossem os donos dos espectros de luz. Desejando no fundo que os desencarnados possam atuar como fantoches, propiciando ajuda aos que estão na Terra. Deixo aqui claro que cada desencarnado tem a sua fonte própria de energia de pensamento. Não carrega a matéria que é o corpo, mas continua com sua própria fonte de energia e, como espectro de luz, começa a estudar a evolução de sua alma na colônia NOSSO LAR.
Por isso deixo aqui por escrito. Se o homem continuar assim, querendo usurpar até de um espírito desencarnado, ele perderá o contato com o próprio Deus. Caso isto venha a ocorrer, cada um será responsável pelo vazio de seu ser em todas as extensões. Por isso, amigos, acordem. Não usem a espiritualidade para ser seu guia financeiro e sim, amem aqueles que na memória deixaram para você uma boa parte dos ensinamentos. Assim se faz, assim se fez. Falô, tá falado!
Muito obrigado.
Augusto César - Galileu dos Sons
Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 2011